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quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Avaliação do ano de 2013

Avaliação 2013
 Em atendimento à solicitação da Secretária Municipal de Educação.
São José do Rio Preto - Janeiro de 2014
Supervisor de Ensino: Eugenio Maria Duarte

"De dónde vienen las buenas ideias?
 Caen del cielo? No.
 Son innatas? No.
 Solo pueden venir de la prática social". Mao Tsé-Tung, 1963


Avaliar é um ato de valorar, de atribuir valor. Valor é o que vale. Algumas coisas tem um preço, um valor de troca, outras não têm preço como a justiça e a liberdade. Embora algumas pessoas achem que podem comprar tudo, inclusive a justiça. Não é a toa que a justiça - estruturalmente -  serve as elites.
Nas pegadas de Spinoza o que vale é o que traz alegria e o seu contrário, tristeza. O que me traz alegria? Respondo: Uma educação emancipadora que constitui o sujeito político: formar para a cidadania. Isto implica uma forma e um conteúdo. Não há forma sem conteúdo e nem conteúdo sem forma.  Ensinar a pensar pressupõe relações horizontais, cooperativas e solidárias entre todos os agentes educativos.
O que me traz tristeza? Uma educação instrumental que desenvolve habilidades e competências dos indivíduos para a servir à sociedade de consumo.
Desenvolver habilidades e competências como um fim em si mesmo reforça a reprodução de um tipo de sociedade que serve apenas à classe dominante. Reforça a competitividade, o individualismo e as desigualdades regionais.
A política educacional ditada no município de São José do Rio Preto tem sido instrumental e assistencialista. Visa a manutenção do que está aí com alguns aspectos de recauchutagem modernizante. A análise do Prof. Carlos de Freitas da Unicamp é reveladora e clara:
"Em agosto um jovem adolescente matou, segundo informações divulgadas hoje 3-9-2013 seu pai, mãe, tia-avó e avó, tendo em seguida, 18 horas após ter matado seu pai, se suicidado. Antes foi à escola calmamente.
“A Polícia Civil de São Paulo informou nesta terça-feira (3) que os laudos sobre as mortes de um casal de PMs, do filho deles de 13 anos e de outros dois parentes, ocorridas no mês de agosto na Brasilândia, zona norte da capital, apontam que o garoto Marcelo Pesseghini –o filho dos policiais– foi o responsável pelos crimes.”
Eis aí uma questão para análise. Como a escola não conseguiu ensinar valores básicos a este aluno, mesmo que na contramão da família, se assim fosse? Não se trata de culpabilizar ninguém. Trata-se de questionar se responsabilizar a escola e os professores pelo ensino, restrito a português e matemática, não tem levado as escolas a deixarem de enfatizar valores básicos como a vida.
“Este é mais um exemplo que deve nos levar a indagar se estamos desenvolvendo uma educação de qualidade social.”
 Com a Indicação nº 05/2001 do Conselho Municipal de Educação, as Leis Municipais n° 8748 de 10 de outubro de 2002 , n° 8751 de 15 de outubro de 2002, e a Resolução SME 002/03 de 04 de fevereiro de 2003, tivemos as bases legais para que o processo de construção do Ensino Religioso no Ensino Fundamental e a Educação em Valores na Educação Infantil, iniciasse nas escolas. Entretanto, nos últimos três anos este processo foi interrompido e nada foi feito. Infelizmente, parece que este tema não é relevante para a atual Secretária. Quem sabe um retorno do Cardeal Orani Tempesta poderia reavivar esta missão?
Uma educação de qualidade não se faz sem investimentos e sem diálogo. Não percebo priorização nestes itens uma vez que o discurso oficial é não ter recursos e as iniciativas criativas devem passar pela chancela oficial de forma monocrática. A prioridade é atender a demanda manifesta sem ter a preocupação com o número de alunos por professor, a adequação pedagógica da hora aula (Lei do Piso: Lei 11.738/08 que determina 1/3 da jornada docente deva ser para atividades extra-classes  e Parecer nº09/2009 CNE-CEB) e com as condições infra-estruturais.
Passamos mais um ano sem um Plano Municipal de Educação. Ou seja, sem uma política educacional construída coletivamente e democraticamente. Permanecemos ainda reféns da vontade de uma ou duas pessoas que de forma autocrática e ao sabor das demandas imediatas, decide o que é bom e o que não é sobre os "negócios da educação".
Outra questão a se perguntar é a não homologação e nem o retorno ao CME expressando alguma discordância ou não do PARECER CME nº 03/2012 solicitado pela própria Secretaria Municipal de Educação que trata da Educação em Tempo Integral no Município de São José do Rio Preto
O Parecer 001/2012, homologado pela Resolução da SME
que regulamentou a Lei Federal n°11.769/08 e dispõe sobre o ensino de música -  no componente curricular – Arte, nas Escolas do Sistema Municipal de Ensino de São José do Rio Preto, ficou apenas como letra morta, uma vez que não há um processo de educação continuada que prepare os professores para ministrar esta nova disciplina e muito menos alguma ação para o atendimento a esta exigência legal.
O acompanhamento das ações da UAB e a atuação como tutor presencial do curso de pedagogia tem sido um fator positivo na medida da apreciação do desenvolvimento profissional das alunas que atuam nas redes de ensino como profissionais da educação.
O ano de 2013 foi o ano das manifestações da juventude. Entretanto, poucas autoridades ouviram o clamor das ruas por maior participação e democratização das relações e da representatividade política. A educação deveria ser a primeira a propor mudanças no sentido de reforçar o protagonismo juvenil. O que me entristece é esta juventude, sobretudo, das periferias de nosso município, sendo tragadas pelo tráfico  e sem perspectivas em termos de superar a erosão do sentido da existência.
Edgard Morin em seu texto profético "Os setes saberes necessários à educação do futuro" nos alerta sobre os riscos de vivermos em uma sociedade globalizada sem estarmos preparados. As respostas dadas aos problemas estarão marcadas pelo reducionismo e pela parcialidade.

Por fim, os objetivos e as propostas expressam valores pelos quais empenhamos nossas vidas e trabalho. Avaliar esta diretamente relacionada com os objetivos propostos e com o projeto de trabalho que para as escolas, denominamos de Projeto Político Pedagógico. Este, construído coletivamente, torna-se um instrumento de avanço na construção de uma educação de qualidade social que é transformadora capaz de construir novas relações, mais justas e humanas. O trabalho da supervisão de ensino neste setor focou nesta construção uma vez que, ao assumi-lo no início de 2013 foi constatado que as unidades escolares ainda não havia sequer iniciado este processo.