Foi realizado no dia 22 de outubro a 2ª e última parte do
Simpósio sobre a Escola de Tempo Integral.
Com o tema versando sobre a “Realidade da Escola em Tempo Integral”
os educadores do município puderam compartilhar uma rica discussão a partir da
realidade vivida pelas escolas. Neste encontro há de se destacar a fala da
Senhora Secretária da Educação que – diante das recentes ações judiciais em caráter
liminar ganhas pelos professores que fizeram concurso e estão aguardando serem
chamados – se está pensando em admitir um profissional com formação de nível
médio para trabalhar com as crianças, praticamente no lugar daquele professor
em substituição.
Embora a secretária tenha
garantido que isto está apenas sendo cogitado, os representantes das escolas (
diretores, coordenadores, supervisores e professores) rechaçaram a idéia uma
vez que a LDBEN já havia estabelecido um prazo muito largo (10 anos) para se
admitir somente profissionais com formação superior para trabalhar com alunos e
que esta idéia representa um retrocesso.
Frente à necessidade de definição
dos profissionais que trabalham nas escolas de tempo integral é preciso considerar
que os modelos vigentes implantados não dão conta de romper com a fragmentação e
a precarização do pedagógico além dos aspectos legais impeditivos desta
iniciativa, uma vez que não poderão sair dos recursos da educação. Não podemos
resolver apenas questões pontuais sem analisar se o modelo que estamos
construindo garante padrões mínimos de
qualidade.
O trabalho pedagógico que
perpassa todas as atividades da instituição educativa deve ser realizado por
professores formados em Pedagogia ou com alguma licenciatura. Ou seja, deve ser
realizado por professores habilitados e concursados. A permanência de
professores contratados em caráter temporário em classes durante o ano inteiro
compromete a qualidade uma vez que não está inserido no plano de carreira e não
tem incentivos para o seu desenvolvimento. Construir uma identidade
profissional demanda experiência aliada a uma reflexão permanente sobre a
prática. O profissional com formação de nível médio – considerando a baixa
qualidade deste nível - não está preparado para lidar com a complexidade
envolvida no “cuidar e educar” de forma articulada e integrada.
Todas as ações/atividades da
escola constituem-se em currículo. Desde a recepção da criança ao chegar e ser
encaminhada para o desjejum até a realização de atividades lúdicas com o
objetivo de realizar a aprendizagem formal são práticas educativas e modelos de
aprendizagem para os pais, filhos e funcionários da escola. A
instrumentalização das rotinas tem esvaziado e corroído o que há de essencial
em cada ser humano que é a sua capacidade de pensar e decidir sobre o que está
fazendo e o que pode fazer. O behaviorismo imposto pelo senso comum pedagógico,
e, às vezes, pelo cientificismo, tem induzido práticas mecanizadas e
autoritárias.
O que se pretende com a
introdução deste profissional de ensino médio? Que ele realize tarefas
consideradas secundárias como se alimentar, dormir e tomar banho? Esses hábitos
não são educativos? Podemos considerá-los como o “cuidar”? No entanto, não
existe o “cuidar” que não esteja imbuído do “educar” e nem o “educar” que não
tenha a dimensão do “cuidar”. A qualificação profissional para o exercício da
docência deve ser a exigência mínima para realizar um trabalho educativo. Caso
contrário prevalecerá a idéia de que qualquer um pode desenvolver o processo de aprendizagem.
Sabemos que o modelo vigente nas
escolas que oferecem este tipo de profissionais para a realização das
atividades têm apenas reproduzido um ocupar o tempo das crianças de forma
assistencialista e tuteladora sem se preocupar com as construções processuais
cognitivas que estão em pleno desenvolvimento e que imprimirão as bases da
forma de ser e de agir para as suas vidas de forma permanente.
Como construir o PPP com
qualidade social? A educação na sua integralidade pressupõe um tempo maior para
a tomada de consciência de si, dos outros, do mundo ao dominar os conhecimentos
necessários para viver melhor e para o auto-desenvolvimento. Focar no
desenvolvimento dos estudantes exige articulação de projetos individuais e institucionais.
Entre o real e o ideal fico com o ideal que pode ser realizado com planejamento
e força de vontade. Aceitar o real é pensar pequeno e se perder nas
preocupações do cotidiano.