Foi aprentado nesta última reunião do ano para o Conselho Pleno indicação sobre a constituição dos Conselhos Escolares na rede municipal de ensino. Com o objetivo de qualificar o debate apresentei em voto separado a seguinte reflexão:
“Dizem que os acadêmicos e intelectuais devem
ser neutros, mas não há neutralidade no pensamento”. Florestan Fernandes
Meu voto vai em separado pelas
razões óbvias abaixo expostas.
A Lei de Diretrizes e Bases da
Educação, no seu art. 15, define que:
Os sistemas de ensino
assegurarão às unidades escolares públicas de educação básica que o integram
progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão
financeira, observadas as normas gerais de direito financeiro público.
Decorridos
dezessete anos de sua aprovação e sucedidos inúmeros governos com seus respectivos
programas, inclusive de gestão pública de intervenção nas escolas, ainda persiste
uma certa política educacional que nega sistematicamente a autonomia das mesmas
no sistema de ensino de São José do Rio Preto.
A maior realização da LDB que se constituiu em uma mudança significativa,
do ponto de vista conceitual e legal, foi justamente o fortalecimento da Unidade
Escolar como o lugar por excelência onde acontecem as atividades fins. Ou seja,
o ensino e a aprendizagem. A inclusão
desse artigo na lei que rege a educação escolar brasileira não foi simples
acaso. Estudos e pesquisas realizados no Brasil indicam que as escolas que
exercem controle direto sobre seus recursos, elaboram e executam seu Projeto
Político Pedagógico apresentam em geral, melhores resultados em relação ao
cumprimento de sua finalidade de ser uma instituição educadora. Os conselhos
escolares existem para o exercício e o fortalecimento das três autonomias
financeira, administrativa e pedagógica. E conselhos autônomos passa
necessariamente pela democracia participativa e popular.
Boaventura de
Souza Santos distingue a concepção de democracia representativa liberal
burguesa, que se impôs como dominante a partir da Revolução Francesa da
concepção de democracia participativa e popular, contra-hegemônica, a serviço
dos interesses da maioria da população.
Até quando as
escolas continuarão reféns de manipulações casuísticas? A lei é para ser
cumprida e não para fazer figuração. Os repasses dos recursos federais por meio
do Programa Dinheiro Direto na Escola – PDDE além de inúmeros outros do FNDE
(Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) são encaminhados anualmente para
as Unidades Escolares e as prestações de conta são realizadas pelas APMs
(Associação de Pais e Mestres) das escolas. Entretanto, estes recursos são
insuficientes para o atendimento das necessidades das escolas. E inúmeras
delas, através da APM, além de solicitar contribuições aos pais, promovem
eventos com a finalidade de angariar recursos para garantir certa
funcionalidade.
Cabe à
mantenedora das escolas públicas – no caso o poder executivo municipal - prever
e prover os recursos necessários para que elas possam cumprir satisfatoriamente
a sua função com qualidade. A exemplo de inúmeros municípios que repassam os
recursos diretamente para as escolas é preciso implantar esta ação política
também no nosso município, uma vez que não existe autonomia administrativa e
pedagógica, sem autonomia financeira. As três autonomias se complementam.
Gestão
democrática se faz com a participação de todos os segmentos que compõem a
comunidade escolar por meio do cultivo do diálogo. Este exige o reconhecimento
do outro, tanto como identidade quanto como diferença, mas nunca como
antagônico. O diálogo pressupõe o poder falar e o poder escutar entre uns e
outros na construção processual do dissenso e do consenso.
A imposição do
pensamento único com a conseqüente descaracterização e tentativa de eliminação
das diferenças tem gerado a apatia, o
distanciamento entre governantes e governados e conseqüente negação da
democracia. Infelizmente ainda convivemos com uma relação primária na política
uma vez quem ganha as eleições procuram anular ou mesmo destruir os que
perderam. E esta dimensão geral (macro) de
nossa política institucional tem influência direta e indiretamente nas micro
relações que se estabelecem nas salas de aula, nas escolas, nas famílias, no
trabalho, etc.
E a política é
entendida no sentido dado pela filósofa Hannah Arendt (1906-1975). Para ela ao transformar o que é estranho e
diferente em familiar abolindo as diferenças, acaba-se abolindo o próprio espaço político, que é constituído da
pluralidade. Para ela, politikon expressa
a idéia da pluralidade e da liberdade humana que se manifesta na vida da polis.
Para os gregos a realização da política era a mais nobre das ações humanas uma
vez que se buscava a concretização da sua finalidade, a saber: o bem comum e a
justiça. Ou seja, é no exercício da própria liberdade na pluralidade dos
cidadãos em interação entre iguais e diferentes que a finalidade da polis se
realizaria.
No entanto, o
que estamos presenciando de modo geral, no contexto das ações dos poderes que
constituem o Estado brasileiro atualmente não serve de exemplo para ninguém. Os
interesses privatistas se impondo sobre o interesse
público reduzindo a dimensão pública
numa guerra de todos contra todos na defesa dos interesses individualistas de
repartição de territórios e de influências. A ética parece esquecida servindo a
determinadas conveniências. A licenciosidade, o vale tudo reforça posições
autoritárias. Diante desta situação como educar? Para que educar? Como afirma
Paulo Freire, a educação é um ato político. Não existe neutralidade na educação
e isto exige que cada um se assuma e viva coerentemente sua posição como
educador progressista ou não, espontaneista ou passadista, democrática ou
autoritária.
A escola é o
espaço de possibilidades. Transformar a escola que temos na escola que queremos
é a finalidade da participação de todos, portanto, da gestão democrática. Transformar a cidade que temos na cidade que
queremos é o objetivo de todos os cidadãos. Por meio da educação o homem é
constituído como ser humano. Que educação nós queremos? Uma educação
emancipadora, ou uma educação domesticadora?
Definindo
estas concepções e princípios, partimos para a realização ou a construção do
sonho compartilhado. O direito de sonhar é o mesmo que o direito de viver.
Possui o mesmo estatuto e carga de subjetivação. “Sonho que se sonha só é só um
sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade”, essa frase
atribuída a John Lennon reflete as possibilidades de transformação da realidade
atual em prol de outra realidade, de outra sociedade justa e solidária, de
outro mundo, de outra educação, de outra economia, de outra nova ordem mundial, etc.
Ações como,
por exemplo, do presidente da Bolívia
Evo Morales que decidiu expulsar a Coca-Cola da Bolívia até o dia 21 de
Dezembro deste ano, renovam as esperanças de realização de mudanças que se
fazem necessárias. Esta decisão, em sintonia com o fim do calendário Maia, será parte dos festejos para celebrar o fim do
capitalismo e o início de “uma cultura da vida”. A festa ocorrerá no fim do
dia, no solstício de verão (no Hemisfério Sul), na Ilha do Sol, situada no Lago
Titicaca.
“O dia 21 de
Dezembro de 2012 marca o fim do egoísmo, da divisão. O 21 de dezembro tem que
ser o fim da Coca-Cola e o começo do mocochinche (refresco de maçã, um
refrigerante muito popular no país). Os planetas se alinham após 26 mil anos. É
o fim do capitalismo e o início do comunitarismo” (conf. in: No Portal Vermelho
(Título original: “Evo Morales vai expulsar Coca-Cola da Bolívia no final do ano”). A medida também visa melhorar a saúde da população. A Coca-Cola, assim com a maioria dos refrigerantes industrializados, contem substâncias comprovadamente nocivas ao corpo e cujo consumo constante se associa a infartos cardíacos e derrames cerebrais.
(Título original: “Evo Morales vai expulsar Coca-Cola da Bolívia no final do ano”). A medida também visa melhorar a saúde da população. A Coca-Cola, assim com a maioria dos refrigerantes industrializados, contem substâncias comprovadamente nocivas ao corpo e cujo consumo constante se associa a infartos cardíacos e derrames cerebrais.
A postura
íntegra e determinada do presidente Evo Morales, assim como de inúmeros outros
cidadãos comuns e profissionais, que como ele, não se deixa levar pelas pressões,
pelos modismos e conveniências agindo coerentes com seus princípios, reforça em
nós o compromisso de lutar por outra educação de qualidade, libertadora e pelo fortalecimento da
democracia representativa popular por meio de um conselho de escola
verdadeiramente autônomo.
São José do
Rio Preto, 06 de dezembro de 2012
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